sexta-feira, 30 de março de 2012

Democracias na Berlinda

Ontem entreguei na Editora da Fundação Getúlio Vargas as provas revisadas de meu livro "Ditaduras Contemporâneas". Infelizmente, a Primavera Árabe não tornou o tema ultrapassado. O levantamento anual da Freedom House aponta que 55% dos países são governados por regimes autoritários ou com sérias restrições às liberdades civis e políticas de suas populações. Essa situação tem declinado de maneira constante ao longo dos últimos seis anos.

Na conjuntura atual, a Freedom House afirma que as reações das ditaduras às rebeliões democráticas no Oriente Médio e no Norte da África são a principal causa da piora, mas também há várias causas relacionadas ao agravamento da crise na Europa, em particular em nações como a Hungria, cujo regime dificilmente pode ser considerado democrático. E temos também a recente onda de golpes na África, que mencionei na semana anterior.

Contudo, a nova faceta do autoritarismo incorpora alguns elementos significativos da democracia - a Freedom House identifica que 60% dos países realizam eleições razoavelmente competitivas, ainda que marcadas por fraudes e violações de liberdades de expressão e de associação. Isso é mais do que meramente um gesto de fachada. Em muitas ditaduras eleições de nível local são travadas como disputas políticas reais, e governos autoritários perdem o controle de municípios ou províncias.

O caso é mais complexo quando se trata de eleições nacionais, mas mesmo nelas temos visto ocasionais desempenhos expressivos da oposição, que depois se tornam instrumento de barganhas para acordos de governos de coalizão, no qual líderes democráticos ganham ministérios ou empresas estatais. Claro que isso acaba sendo um poderoso instrumento de cooptação - o Zimbábue é um exemplo forte. Talvez algo desse tipo possa ocorrer na Síria, com a parcela da oposição disposta a negociar com Assad.

Não acredito na possibilidade - nem mesmo remota - da queda do regime democrático no Brasil, mas é importante observar que nas pesquisas de opinião internacionais, como o Latinobarômetro, o apoio dos brasileiros à democracia é bastante baixo, oscila entre 45% e pouco mais da metade da população. É menos do que se poderia esperar dado o bom desempenho da economia, a ascensão de uma nova classe média e até a queda constante das desigualdades, que embora altas, estão no menor nível desde 1960. Entendo que as razões para a falta de entusiasmo com o sistema venham do desencanto com a persistência da corrupção e pelo medo diante da violência e do crime.

São fatores importantes a se levar em conta. Pesquisas recentes apontam que metade dos países que tentaram se democratizar fracassaram, não tanto pelo desempenho econômico, mas por problemas como desigualdades, abusos do Poder Executivo, eclosão de conflitos étnicos etc.

Que pensemos um pouco sobre isso, neste dia em que nós, brasileiros, relembramos nosso mais recente - oxalá último - golpe de Estado.

quarta-feira, 28 de março de 2012

O Papa em Cuba

Bento XVI está discreto em sua visita a Cuba e não criticou o governo do país, mas a Igreja Católica continua a ser o pilar dos movimentos sociais que se opõem ao regime autoritário cubano – papel que desempenha desde o fim da década de 1990. É um jogo de médio prazo, com o horizonte ao longo desta década e no futuro imediato o Vaticano segue na complexa barganha com os irmãos Castro, moderando pressões mais intensas contra as autoridades e recebendo apoio financeiro do Estado para recuperar a influência perdida desde a Revolução de 1959.

Não há dados confiáveis para o número de católicos em Cuba, mas a maioria das estimativas aponta até um terço da população – um palpite razoável após 40 anos nos quais o Estado cubano foi oficialmente ateu e as atividades da Igreja foram cerceadas. Muitos padres foram expulsos da ilha e novas edificações foram proibidas por décadas – o seminário erguido há poucos meses foi a 1ª construção da Igreja em Cuba desde a Revolução.

Dito de outro modo, a força social do catoliciismo na ilha ainda é de uma escala em que o regime pode arriscar a normalização das relações com a Igreja. Fidel recebeu João Paulo II em 1998 e o papa que ajudou a derrubar o comunismo na Europa Oriental e combateu a Teologia da Libertação na América Latina criticou a situação dos presos políticos em Cuba. O Vaticano se tornou o principal patrono externo de diveros movimentos de contestação ao regime, como o Projeto Varela, mas isso não impediu que o governo prendesse seus líderes e ativistas mais importantes. Ainda que a mediação da Igreja tenha sido importante para libertá-los, anos mais tarde.

Houve divisões no Vaticano com relação à conveniência da visita do papa. Segundo relatos da imprensa, cardeais temeram que Bento XVI seria manipulado pela propaganda do regime cubano. De fato, as autoridades prenderam vários ativistas e impediram os dissidentes mais radicais de participar dos eventos com o papa. Bento XVI rezou pelos presos e por suas famílias, mas sem se referir de maneira explicíta aos que foram condenados por suas opiniões políticas. Seus ataques ao comunismo foram feitos na imprensa internacional - a qual a população cubana não tem acesso - e não na ilha.

Hoje é o ponto alto da visita papal, com a celebração de missa na Praça da Revolução, em Havana. Será uma surpresa se tivermos críticas frontais de Bento XVI ao regime cubano.

segunda-feira, 26 de março de 2012

A Liberdade dos Servos

O filósofo Maurizio Viroli, professor em Princeton, é um dos mais destacados intelectuais italianos. Seu novo livro, “The Liberty of the Servants”, é uma análise lúcida e sombria do declínio da democracia no longo governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, e também um diálogo com teóricos políticos de Maquiavel a Bobbio sobre a dificuldade histórica da Itália em estabelecer regimes democráticos efetivos. A experiência anterior, da reunificação sob uma monarquia constitucional, desmoronou com o advento do fascismo em 1922, e Berlusconi é o homem que por mais tempo comandou a república italiana!

Viroli classifica o governo de Berlusconi como uma “sociedade de Corte”, na qual as instituições tradicionais de equlíbrio democrático foram corroídas pela enorme concentração de poder nas mãos do primeiro-ministro, que era também o homem mais rico do país e o principal empresário de mídia. Berlusconi foi extremamente hábil em distribuir os espólios desse império, construindo uma rede impressionante de aliados e mantendo até a oposição razoavelmente satisfeita com nacos de cargos e verbas públicas.

O filósofo observa que esse sistema não tem paralelos em nenhuma democracia ocidental, e que seria preciso compará-lo com regimes autoritários como a Rússia de Vladmir Putin para encontrar casos semelhantes. A questão é por que a Itália chegou ao ponto de aceitar algo assim, e Viroli nota a extrema dificuldade do país em construir um Estado de Direito vigoroso e democrático. A reunificação gerou uma nação frágil, com enormes desigualdades regionais e a persistência de relações autoritárias no campo, sobretudo no sul. A república pós-Segunda Guerra Mundial teve desenvolvimento econômico, mas com uma vida política marcada pela corrupção e pelo clientelismo, com um mundo partidário que naufragou nos escândalos do início da década de 1990, abrindo espaço para a ascensão vertiginosa de Berlusconi (aos interessados nesse tipo de discussão, vale ler também "The Pursuit of Italy", do jornalista britânico David Gilmour)

O ponto mais controverso do livro é que Viroli com frequência atribui as falhas da Itália a problemas de psicologia coletiva dos italianos, a quem ele atribui sérias deficiências de caráter, como a desconfiança constante, baixa autoestima e uma tendência a aceitar situações de servidão, em vez de buscar a autonomia que seria a marca dos verdadeiros cidadãos. Nesse sentido, o sucesso midiático de Berlusconi seria apelar a traços profundos da cultura política italiana, apresentando-se como uma espécie de caudilho dinâmico e sempre vitorioso, que não se importa com dogmas políticos e é pragmático para alcançar seus objetivos. Viroli pouco trata dos escândalos sexuais, considerando-os – a meu ver, com razão – como uma faceta secundária do fenômeno Berlusconi.

A Itália é formada por muitos componentes contraditórios e Viroli concentra-se em seus defeitos e problemas mais sérios, mas o país também tem tradições impressionantes de civismo, ética e mobilização política – o republicanismo cívico da Renascença, certas correntes do Risorgimento, a resistência ao fascismo, a tradição de bom governo regional e municipal no centro-norte, uma impressionante vida artística e intelectual. O cinema tem nos dado diversas reflexões interessantes sobre Berlusconi e o recente filme de Nani Moretti, “Habemus Papam”, também é boa discussão sobre o vácuo de liderança no país e sobre as enormes responsabilidades exigidas dos líderes.

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As últimas semanas foram bastante movimentadas em termos de entrevistas. Aqui seguem os links:

Perspectivas de Carreiras em Relações Internacionais no Brasil (Globo)

Queda no comércio entre Brasil e Irã (Valor Econômico)

Brasil como doador internacional (IPS)

Há também a publicação de meu artigo mais recente, "Democracia e Política Externa no Brasil", na Revista de Estudos Políticos.

sexta-feira, 23 de março de 2012

De Volta à Era dos Golpes na África?

A era dos golpes militares está de volta? Nesta semana, o presidente do Mali foi deposto num movimento comandado por um capitão. Nos últimos meses, acontecimentos semelhantes ocorreram no Niger e nas ilhas Maldivas. Ainda é cedo para afirmar se estamos diante de uma tendência ou se é meramente o reflexo dos tempos turbulentos da crise econômica e até da Primavera Árabe. Sim, pois no caso do Mali, houve uma participação importante de mercenários que lutaram ao lado de Kadafi na Líbia e que voltaram ao país natal com armas, recursos e ambições de poder.

O presidente do Mali, Amadou Touré, deixaria o cargo em breve, após as eleições de abril. Ele foi acusado pelo líder dos golpistas, capitão Amadou Sanogo, de não ter apoiado suficientemente o Exército na luta contra rebeldes beduínos no norte do país. A insurgência é de fato forte e nas últimas semanas tinham ocorrido conflitos com soldados veteranos do conflito, que haviam protestado pelo tratamento que receberam. Contudo, o descontentamento com a guerra parece ser simplesmente um pretexto, até pela proximidade de Touré sair da presidência.

A situação no país está muito tensa, com os golpistas saqueando prédios públicos, lojas e residências particulares. O presidente deposto está desaparecido, aparentemente fugiu para não ser morto. Ele é general da reserva e havia dado um golpe na década de 1990, embora tenha sido importante na transição do Mali para a democracia. Curiosamente, o país era considerado um exemplo promissor na África. Há poucas semanas, quando visitei o Museu da Notícia em Washington, havia uma exposição sobre liberdade de imprensa situando o Mali como modelo para outras nações africanas.

A reação internacional tem sido ambígua: países como a França (ex-metrópole) e organizações internacionais como União Africana e Banco Mundial suspenderam a ajuda ao Mali, mas os Estados Unidos a mantiveram. Há rumores vindos dos próprios diplomatas americanos que o líder do golpe fez parte de uma unidade de elite enviada ao país para treinamento antiterrorismo. Não é difícil imaginar que ele irá se apresentar ao mundo como um campeão da luta contra a Al-Qaeda e outros grupos fundamentalistas. Os golpistas batizaram sua junta de “Comitê para Restaurar a Democracia e o Estado”, o que me leva a crer que pretendem permanecer um bom tempo no Palácio Presidencial...

quarta-feira, 21 de março de 2012

Crimes de Ódio na França

Na última quinzena ocorreram uma série de crimes de ódio no sul da França, nas cidades de Toulouse e Montauban. Falei hoje à Rádio CBN sobre o tema. Ambos foram executados da mesma maneira: tiros certeiros contra pequenos grupos de pessoas, matando soldados páraquedistas e alunos e professores de uma escola judaica. A polícia suspeita que foram cometidos pela mesma pessoa e desconfia que o criminoso seja um ex-soldado vinculado a grupos de extrema-direita. Também pesam dúvidas que apontam para os suspeitos de sempre, fundamentalistas islâmicos. Infelizmente, esse tipo de ataque tem se tornado comum na Europa – em 2011 houve os grandes atentados na Noruega e outros bastantes significativos na Bélgica, Itália e Alemanha. A boa nova é a reação exemplar francesa: todos os candidatos à presidência condenaram duramente os crimes e judeus e muçulmanos protestaram juntos contra a violência religiosa (militares de origem árabe foram mortos a tiros em Toulouse).

As origens desse tipo de agressão estão na profunda crise econômica européia, com longos anos de estagnação e desemprego na faixa dos dois dígitos. Esse é o combustível que alimenta conflitos étnicos e religiosos, embora a proporação de estrangeiros nos países europeus em geral oscile entre apenas 5%-10% . As principais vítimas dos ataques têm sido muçulmanos e ciganos, estes últimos nas nações da Europa Oriental. A violência antissemita tem sido comparativamente rara, em parte porque a extrema-direita européia passou a considerar Israel e as comunidades judaicas como aliados em uma imaginária cruzada contra o Islã.

A responsabilidade pelos crimes de ódio pesa não só sobre os extremistas e fundamentalistas, mas também é consequência de ações tomadas por partidos moderados, no poder em vários países. Eles adotaram parte do discurso xenófobo para atrair o eleitorado mais conservador. Na França, Itália e Reino Unido autoridades têm demonizado imigrantes da África e Ásia e contribuindo para legitimar posições racistas que com frequência assustadora têm degenerado em violência.

A sombria história da Europa – em particular a do período do entreguerras, nas décadas de 1920-1930 – é um lembrete poderoso de que mesmo democracias aparentemente sólidas podem decair para a barbárie, e que conflitos religiosos ou étnicos envolvendo mesmo minorias minúsculas são instrumentos importantes para demagogos. Afinal, os judeus eram menos de 1% da população da Alemanha quando Hitlter e os nazistas ascenderam ao poder.

segunda-feira, 19 de março de 2012

O Tipo Certo de Revolução

Os Estados Unidos podem ganhar guerras. Podem ganhar revoluções?

Henry Cabot Lodge, político, militar e diplomata americano, ex-embaixador no Vietnã do Sul

Uma das maneiras de se entender a Guerra Fria é como o choque entre dois modelos antagônicos de desenvolvimento – o de economias de mercado, capitaneadas pelos Estados Unidos e pela Europa Ocidental, e os dos sistemas comunistas liderados pela União Soviética e pela China. Em “The Right Kind of Revolution – modernization, development and US Foreign Policy from the Cold War to the Present”, Michael Latham (Universidade Fordham, Nova York) critica as abordagens americanas para lidar com o desenvolvimento dos países do Terceiro Mundo, avaliando que eram modelos simplistas, autoritários e que contribuíram para o agravemento das tensões daquele período conturbado e que continuam a pautar a ação dos Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão.

Para Latham, a chave política desses modelos era o desejo dos Estados Unidos em exercer influência sobre os países que estavam se tornando independentes após a Segunda Guerra Mundial, impedindo que os soviéticos se tornassem a força dominante sobre eles. Nesse processo, os acadêmicos americanos criaram diversas fórmulas que procuravam explicar o processo de desenvolvimento de países pobres e propor soluções para que chegassem ao patamar das nações ricas.

A principal abordagem desse tipo foi a teoria da modernização, que atingiu o auge de sua influência na década de 1960 e foi importante na política externa de John Kennedy e Lyndon Johnson, servindo de base intelectual para iniciativas como a Aliança para o Progresso e as doutrinas de contrainsurgência no Vietnã. O cerne dessa perspectiva era uma divisão dos países em “tradicionais” e “modernos”, e a discussão sobre quais as políticas públicas para fazer a transição de uma etapa para outra – em geral, por investimento estrangeiro maciço. Walt Rostow, o autor do mais influente desses tratados, “The Stages of Economic Growth: a non-communist manifesto”, foi conselheiro de Segurança Nacional dos EUA.

Os teóricos da modernização acreditavam que a democracia era o destino final dos países em desenvolvimento, mas desconfiavam dela no curto prazo e em geral advogavam elites mais ou menos autoritárias impondo reformas de cima para baixo. A busca desse tipo de líder foi um fracasso constante dos Estados Unidos no Vietnã e o país também falhou em lidar com governantes que tinham um perfil desse tipo, mas cujo nacionalismo os tornava difíceis de controlar, como Gamal Nasser no Egito.

Latham faz a síntese das críticas que foram feitas à teoria da modernização. Por exemplo, como ela considera “tradição” e “modernidade” como conceitos absolutos e dicotômicos, ao passo que no mundo real a relação entre ambos é bem mais próxima e ambígua – autoridades tradicionais com frequência são agentes de modernização e podem legitimar novas instituições, como partidos políticos. Ele menciona também as abordagens da CEPAL e da teoria da dependência, que ressaltam que a pobreza não é só questão de más escolhas de governantes mas de trajetórias históricas de exploração colonial ou agressões estrangeiras.

“The Right Kind of Revolution” é um ótimo livro na fronteira fértil entre relações internacionais e estudos sobre o desenvolvimento, uma área que demanda novas abordagens e um olhar mais detalhado por parte dos brasileiros.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Bento XVI em Cuba

O papa Bento XVI chegará a Cuba no dia 26 de março. Ontem um jornal do Japão, o Yomiuri Shimbun, me pediu uma análise da visita e este post reproduz o que declarei àquela publicação.

A visita de Bento XVI a Cuba é importante porque consolida a nova relação de diálogo e parceria entre o governo socialista cubano e a Igreja Católica, iniciada na década de 1990, sob o comando de Fidel Castro e de João Paulo II. Essa relação sobreviveu a sérias tensões políticas, como o apoio da Igreja a grupos de dissidentes na ilha, e foi marcada por fatos positvos como a mediação bem-sucedida do Vaticano para libertar cerca de 70 presos políticos ao longo da última década.

Para Cuba, a relação é importante como um modo de implementar uma abertura lenta, gradual e controlada do regime. Para o Vaticano, a motivação é retomar a presença e influência da Igreja num país importante da América Latina, onde depois de cinco décadas de regime socialista apenas 10% da população se define como católica.

A Revolução Cubana teve uma relação conturbada com os católicos, ao proclamar um Estado ateu (e não meramente laico), expulsar sacerdotes estrangeiros do país e permitir o aborto e o divórcio. Com as reformas econômicas pró-mercado dos anos 90, houve um esforço de aproximação com a Igreja. A nova Constituição, de 1992, eliminou o caráter ateu do Estado e as autoridades cubanas voltaram a apoiar financeiramente as instituições religiosas. A Igreja construiu um novo seminário, o primeiro desde a Revolução. O momento mais simbólico dessa guinada foi a visita de João Paulo II à Cuba, em 1998, que transcorreu de forma cordial, apesar do histórico anti-comunista do papa em países como Polônia e Nicarágua.

O Vaticano é o principal patrono internacional dos movimentos democráticos mais importantes de Cuba como o Projeto Varela, que tem se inspirado na doutrina social da Igreja e nos partidos democrata-cristãos para propor eleições livres e reformas políticas em Cuba. O regime às vezes reprime essas demandas e vários dirigentes do movimento foram presos após a onda repressiva conhecida como Primavera Negra, em 2003. O Vaticano, em conjunto com o governo da Espanha, mediou a libertação de muitos deles.

quarta-feira, 14 de março de 2012

O Brasil Visto de Washington: a Eterna Busca da "Relação Especial"

Estou em Washington desde domingo, visitando os think tanks da cidade e fazendo entrevistas para minha pesquisa sobre democracia e política externa. O que vejo nos círculos políticos da capital americana é uma atitude contraditória com relação ao Brasil: apreciação pelo novo status internacional do país, acompanhada pela insatisfação e perplexidade quando as ações brasileiras refletem essa nova situação, como nos esforços de mediação no Oriente Médio ou na busca de políticas econômicas autônomas. Há uma curiosa obssessão com detalhes simbólicos e protocolares, como bom entrosamento pessoal entre os presidentes de ambas as nações, o que ilustra certa dificuldade em analisar o cerne da agenda diplomática.

Na primeira metade do século XX, Brasil e Estados Unidos tiveram relações muito próximas, uma "aliança não-escrita" ou mesmo um pacto formal, como na Segunda Guerra Mundial. Esse entendimento era calcado na economia (o mercado americano era o maior para os produtos brasileiros) e numa barganha eficaz pela qual o governo brasileiro apoiava a liderança internacional dos Estados Unidos em troca do auxílio americano para as ambições do Brasil na América do Sul - então bem modestas e centrada na definição das fronteiras e na manutenção de um vantajoso equilíbrio de poder diante da Argentina.

O modelo da relação especial começou a ser questionado com força na década de 1950 e não há sinais de que tão cedo ele voltará a ter vigência. Vários fatores explicam a guinada brasileira em busca de uma política externa mais diversificada: o aprofundamento do desenvolvimento e do comércio exterior, o relativo desinteresse americano no Brasil diante dos grandes conflitos da Guerra Fria na Europa e na Ásia e contenciosos em vários temas, complicados pelos novos e mais amplos interesses brasileiros.

Ouvi aqui em Washington que o governo Obama não trata o Brasil como uma grande potência, ao contrário do que faz, por exemplo, com a Índia. As razões são evidentes: os americanos precisam dos indianos para (tentar) equilibrar o jogo com a China e o poder militar da Índia é crescente, e inclui armas nucleares. As dimensões da importância do Brasil são outras: a força de sua economia e seu papel de moderador de crises na América do Sul, uma região secundária para os Estados Unidos. A Bolívia não é o Afeganistão e a Venezuela não é o Irã, nem nos dias de mau humor de Chávez.

Não é a melhor base para uma "relação especial", mas é campo sólido para construir uma boa agenda diplomática, contanto que mais ajustada a expectativas reduzidas. Ambições exageradas e estereótipos mútuos há muito prejudicam o entendimento entre Brasil e Estados Unidos.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Uma Única Jogada dos Dados

A possibilidade de conflito militar entre Irã, Estados Unidos e Israel tem dominado os debates de política internacional por aqui e o melhor livro disponível sobre o assunto é “A Single Roll of the Dice – Obama´s Diplomacy with Iran”, do cientista político iraniano Trita Parsi. Baseado em entrevistas com líderes políticos de diversos países, seu argumento é que a tentativa de aproximação entre Washington e Teerã falhou por conta das objeções domésticas nos dois regimes, exacerbadas pelas tensões que envolvem os israelenses, e que os dois países estão presos numa situação de estagnação “sem guerra e sem paz”, marcadas por rodadas de sanções ineficazes.

Parsi é um analista excepcional e tem exercido importante papel político como líder do Conselho Nacional Iraniano-Americano, uma associação de oposição ao regime islâmico. Ele cresceu no exílio, acompanhando o pai, opositor dos aiatolás. Seu livro subiu para os 100 mais vendidos na Amazon, depois de ótima entrevista do autor no programa Daily Show, de Jon Stewart.

A história narrada por Parsi é fascinante: quando os Estados Unidos invadiram Afeganistão e Iraque – dois vizinhos do Irã – o presidente reformista iraniano Mohamed Khatami se apavorou e achou que seria o próximo. Seu governo apresentou uma proposta extraordinária a Washington, concordando com praticamente todas as exigências dos americanos, inclusive oferecendo a suspensão de ajuda aos aliados estrangeiros do regime islãmico, Hezbolá e Hamas. A Casa Branca se recusou a negociar – Bush e seus assessores achavam que poderiam conseguir o prêmio máximo, a derrubada da república islâmica, por meio da pressão militar e econômica.

Não foi isso o que ocorreu, evidentemente, e a situação dos Estados Unidos se complicou bastante com as crises no Afeganistão, Iraque e Paquistão, para não falar da crise econômica, ao passo que o Irã ascendeu como potência regional no Oriente Médio, sob a liderança radicalizada de Mahmoud Ahamadinejad. Obama ascendeu à presidência com a proposta de um “novo começo” nas relações entre os dois países. Sua disposição em conversar era sincera, mas foi recebida com ceticismo em Teerã e com indignação em Israel, onde o governo defendia que o programa nuclear iraniano era uma grave ameaça que tinha que ser eliminada, se necessário pela força.

Contudo, o que matou as negociações foi a eclosão da Revolução Verde no Irã, e a feroz repressão que se seguiu. Tornou-se impossível para Obama sustentar o diálogo em meio às pressões do Congresso para novas sanções contra a república islâmica. Em Teerã, as elites políticas chegaram à beira da guerra civil e mesmo a vitória (fraudada) de Ahamdinejad nas eleições não resolveu o jogo. Parsi afirma que os conflitos entre o presidente e os aiatolás refletem um amplo cisma geracional, do enfrentamento entre a velha guarda da Revolução de 1979 e os novos líderes, que foram ativistas de base na queda do xá e lutaram na guerra de 1980-1988 contra o Iraque.

Num cenário tão polarizado, é difícil ser mensageiro de soluções pacíficas e Parsi é um excelente cronista dos esforços do ex-presidente da Agência Internacional de Energia Atômica, o egípcio Mohammed El-Baradei (Nobel da Paz por essa tentativa) e dos governos do Brasil e da Turquia para encontrar uma saída para o labirinto iraniano.

Parsi tem brilhante análise do plano turco-brasileiro, pelo qual o Irã enviaria seu urânio ao exterior para ser enriquecido sob supervisão internacional. A proposta havia sido feita originalmente pelos Estados Unidos, mas quando foi aprovada pelo Irã, os americanos já haviam negociado secretamente com Rússia e China nova rodada de sanções e ficariam furiosos com a mediação do Brasil e da Turquia.

Atualmente, 57% dos republicanos acredita que haverá guerra contra o Irã em 2012, contra 22% dos democratas. É uma polarização partidária. O próximo passo é acompanhar o embargo dos EUA e da União Européia contra o petróleo iraniano, que entra em vigor em 1º de julho. A foto do meio do post foi tirada por mim na Times Square. O manifesto contra Ahmadinejad contrasta com anúncio de nova série de TV cujo slogan é “ame seu vizinho.”

sexta-feira, 9 de março de 2012

A Cidade e a Inovação

O mundo nunca teve tantas tecnologias que permitem comunicação instantânea mesmo entre pessoas que estão muito distantes, no entanto, a convivência cotidiana continua a ser um elemento essencial para diversas atividades, inclusive para fomentar a inovação intelectual e científica. Minha estadia em Nova York tem me feito conversar bastante sobre isso, pois essa percepção é comum na cidade e está presente até nos projetos de reformas arquitetônicas das instituições acadêmicas.

As excelentes oportunidades profissionais e culturais fazem de Nova York um imã para pessoas inteligentes, criativas, talentosas, inquietas e ambiciosas, de todas as partes do planeta, e o ritmo e a intensidade do trabalho por aqui impressionam. Há especialistas de todo o tipo na cidade, com frequência a uma distância muito curta uns dos outros - alguns quarteirões de caminhada, poucos minutos no metrô. Os variados círculos sociais se misturam em festas, eventos, coquetéis, reuniões e pelo circuito amigos-dos-amigos se pode conhecer bastante gente, ou receber indicações de emails e telefones para entrar em contato com aquele sujeito que trabalhou com seu colega no Banco Mundial, ou aquela amiga que tem um cargo de direção na ONU, ou o aluno que tem um pé no teatro off-Broadway e pode dar boas dicas sobre a vida cultural.

Para quem está interessado em desenvolver um projeto qualquer - uma pesquisa acadêmica sobre um tema pouco estudado, a criação de uma empresa para preencher um nicho de mercado inexplorado - basta soltar a idéia numa roda de conversa e sempre se sairá com meia dúzia de sugestões de pessoas a quem procurar. Basta uma delas topar para que a faísca da inovação seja aceita.

Muitas dessas idéias nascem de interações espontâneas ou acidentais, conversas ocasionais no café, um bate-papo no refeitório, um encontro inesperado no metrô. Construir espaços sociais que permitam esse tipo de convívio é uma preocupação explicíta das universidades. A New School está construindo um grande prédio na 5a Avenida, para colocar no mesmo campus especialidades acadêmicas distintas que estão espalhadas por vários edifícios. Esse mesmo objetivo marcou projetos em outras cidades, como a sede da Apple em Cupertino, na Califórnia ou o Instituto de Estudos Avançados de Princeton.

Minha própria pesquisa acadêmica tem sido muito beneficiada pelos estímulos e sugestões que tenho recebido por toda a parte em Nova York. Principalmente pela convergência de pessoas de dezenas de países, com experiências profissionais diversas - universidade, diplomacia, imprensa, Nações Unidas, organizações não-governamentais. O debate fica mais elétrico, provocador e interessante.

No domingo embarco para Washington, onde ficarei por alguns dias, realizando entrevistas e indo a eventos em centros de pesquisa na capital americana.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Super Terça

Ontem foi a Super Terça das primárias republicanas, na qual 10 estados votaram para escolher o candidato presidencial do partido. Os resultados confirmam a vantagem de Mitt Romney - ele ganhou seis das disputas estaduais. Contudo, o mais moderado entre os competidores sofreu derrotas significativas para Rick Santorum (3 estados) e para Newt Gingrich (ganhou sua Geórgia natal) que ilustram sua dificuldade em conquistar o eleitorado conservador, sobretudo no sul. Romney não conseguiu definir a situação e a luta dentro do Partido Republicano prossegue.

O maior destaque da Super Terça é a disputa por Ohio. Este "swing state" vota nas eleições presidenciais ora com democratas, ora com republicanos, tornando-o um elemento essencial da rivalidade entre os dois partidos. Mais do que isso: quem ganhou em Ohio nos últimos anos, também levou a Casa Branca. Trata-se, portanto, de um prêmio com alto valor simbólico. Romney ganhou Ohio com leve vantagem frente a Santorum, mas com gosto amargo: gastou o triplo do rival e as pesquisas de opinião mostram que só um terço dos eleitores do estado acreditam que Romney entende os problemas dos americanos comuns.

Essa é sua fragilidade. Numa eleição marcada pela mais severa crise econômica desde a Grande Depressão, as pessoas estão com medo, descontentes com o presente e inseguras quanto ao futuro. A economia tem se recuperado, mas os empregos, não. O setor de manufaturas industriais, por exemplo, perdeu um terço das vagas desde 1999, embora sua produção tenha aumentado em mais de 30%. A classe média das pequenas cidades, assustada, tem encontrado conforto muito mais na religião e na afirmação dos valores conservadores de Santorum do que nas propostas centristas de Romney.

O problema para os republicanos é que eles precisam do voto dos eleitores moderados, e dos democratas insatisfeitos com Obama. É uma equação difícil de fechar. O partido está muito fragmentado e dividido - as primárias já tiveram 11 líderes! - e o presidente desfruta de popularidade de 50%, bastante razoável diante das circunstâncias do país. O cenário que se desenha é da nomeção de Romney, numa chapa que faça várias concessões à ala conservadora dos republicanos, à semelhança de John McCain - Sarah Palin em 2008.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Manual dos Ditadores

Se você quer ser um líder autoritário, Bruce Bueno de Mesquita e Alastair Smith têm a receita: confie apenas num círculo reduzido de apoiadores essenciais, alimente-os apenas com os recursos econômicos necessários, tenha uma boa reserva de pessoas que possam ocupar o lugar da base aliada e forneça ao resto da população pouco acima do que for preciso para que não se rebelem. Mas “Dictator´s Handbook – why bad behavior is almost always good politics” vai bem além do título irônico. É um brilhante estudo sobre a natureza das lutas políticas, informado pela teoria dos jogos e por aplicações diversas e interessantes que incluem regimes democráticos, empresas privadas e organizações como FIFA e Comitê Olímpico Internacional.

Mesquita é conhecido por seu controverso modelo matemático que pretende explicar e prever resultados de inúmeros conflitos, mas este livro é menos polêmico. O que os autores fazem é construir uma teoria que procura explicar como líderes ascendem ao poder, mantêm ou perdem o controle. Ela é usada sobretudo para ditaduras, mas também explica muitos desdobramentos em democracia. A idéia-mestra é que líderes se sustentam em coalizões formadas por três grupos de pessoas ou instituições: essenciais, influentes e intercambiáveis. O primeiro é o núcleo duro do poder, os segundos são peças importantes e os terceiros, as camadas mais amplas envolvidas em menor grau na escolha de um dirigente – eleitores numa democracia, por exemplo. Para sobreviver, líderes têm que manter razoavelmente contente os essenciais e impedir a formação de uma coalizão rival com elementos rebeldes dos demais grupos.

A regra básica é dar aos essenciais recursos econômicos e poder político, mas numa escala em que eles fiquem sempre dependentes do líder e não possam formar uma base autônoma de onde desafiar o regime. Dissidentes podem e devem ser reprimidos com violência – como dizem os autores, ser ditador não é uma tarefa para pessoas de bom coração. Naturalmente, é contraproducente matar de fome seus súditos, mas Mesquita e Smith argumentam (a meu ver com razão) que autocratas bem-sucedidos raramente promovem desenvolvimento econômico, e que se mantém décadas no poder por uma mistura de ameaças, barganhas clientelistas e constante vigilância. De modo semelhante, os grupos essenciais a seu apoio funcionam melhor quando estão ligados ao ditador por vínculos pessoais fortes, como família, religião, origem étnica etc.

O livro é ilustrado com deliciosos estudos de caso que vão da Roma Antiga à Primavera Árabe, e uma ou outra discussão de política contemporânea dos EUA. Não há referências ao Brasil, mas o leitor brasileiro encontrará muitos pontos de identificação, sobretudo no debate a respeito da corrupção no esporte internacional. Em diversos casos há uma certa leitura simplificada das questões em jogo, mas os elementos básicos da teoria são expostos de maneira muito clara e interessante. Li o manual pensando bastante a respeito da Síria – Assad pai e filho são bons exemplos de autocratas que seguem com rigor as regras de sobrevivência no poder.

Contudo, os autores não escreveram o livro para ditadores, embora seja uma visão dura e algo cínica da política. Eles afirmam que o melhor modo de democratizar um país – ou uma empresa, em interessante análise da governança corporativa – é ampliar a base de essenciais, pois essa é a melhor maneira de incentivar o fornecimento de bens públicos à população. Há também defesas apaixonadas dos benefícios trazidos pelas liberdades civis e políticas ao desenvolvimento dos países.

Para o público mais interessado em relações internacionais do que em política comparada, o livro tem dois capítulos excelentes que discutem ajuda global e as teorias da paz democrática. Mesquita e Smith examinam como a cooperação internacional funciona para manter no poder regimes autoritários e corruptos, mas importantes para a política externa das grandes potências, e por que ditadores vão à guerra sem se importar tanto em ganhar ou perder, já que podem sobreviver a diversas derrotas, pela via da repressão e da concessão de benefícios a seus essenciais. Enfim, excelente livro, que certamente renderá muitos debates.

sexta-feira, 2 de março de 2012

O Brasil Visto de Nova York

Muitas pessoas no Brasil tem me escrito para perguntar qual é a imagem do país nas instituições acadêmicas de Nova York. Nesta última semana, tenho circulado bastante entre a New School, Columbia, New York University e conversado com pesquisadores de outras organizações. Me arrisco a formar um quadro genérico: há grande interesse e admiração pelo Brasil, visto como exemplo bem-sucedido de transição democrática e desenvolvimento econômico, mas esses sentimentos postivos são contrabalançados pela percpeção de certo isolamento brasileiro, de dificuldades significativas dos profissionais do país em dialogarem com os demais latino-americanos e de estarem presentes nas organizações internacionais.

Começando pelo lado favorável, o Brasil me tem sido descrito por aqui com termos como “a nova grande potência”, “o país mais emocionante do mundo”, “uma referência em políticas públicas para países em desenvolvimento” e em palavras menos impactantes, mas com igual admiração, como a de uma nação que percorreu um longo caminho para se distanciar da ditadura, da hiperinflação e que apesar dos muitos problemas melhorou de modo considerável.

Os analistas em Nova York destacam a trajetória ascendente do Brasil, a idéia de que o país continuará a se desenvolver pelos próximos anos. Dependendo da pessoa com quem converso, pode ser ressaltado o aspecto econômico, a capacitação de certos setores do Estado (em particular o Itamaraty, respeitadíssimo por aqui), a força cultural e artística, o dinamismo dos movimentos sociais ou a habilidade política dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula. A grande exceção é a imprensa brasileira, sobre a qual só escuto críticas por aqui – algumas muito duras.

Seria de esperar que uma nação ascendente como o Brasil procurasse ocupar os importantes espaços das instituições acadêmicas em Nova York – o ambiente cosmopolita da cidade significa que trabalhar por aqui resulta na construção de redes internacionais significativas. No entanto, não é isso o que ocorre. Chineses, indianos, sul-coreanos estão por toda a parte. Da América Latina, argentinos e chilenos estão bem representados. Mas os brasileiros costumamos ser uma minoria muito pequena, bem abaixo do que poderia se esperar pelo tamanho do país.

Nestes tempos de classe média emergente, os turistas brasileiros estão, claro, por toda a parte, e são os que mais gastam em Nova York – em torno de US$1,6 bilhões por ano. A cidade agradece. Mas é preciso também ter profissionais brasileiros por aqui, para melhorar o diálogo com os Estados Unidos e ampliar o alcance brasileiro nas redes globais.