quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Wikileaks da Folha



No dia 28, a Folha de S. Paulo publicou documentos diplomáticos brasileiros das décadas de 1990 e 2000, com revelações sobre turbulências nas relações com os Estados Unidos. No mesmo dia, a rádio CBN me entrevistou a respeito do tema. A equipe da Folha me pediu então para colocar no papel minhas observações, que saíram na edição do dia 30 do jornal. Aqui seguem:

Descobertas complementam as revelações do WikiLeaks

Tue, 30 Aug 2011 07:31:21 -0300

MAURÍCIO SANTORO
ESPECIAL PARA A FOLHA


A excelente iniciativa da Folha em solicitar o acesso a documentos públicos do Ministério das Relações Exteriores brasileiro revelou em sua primeira fornada de publicações que o governo dos Estados Unidos recorreu a métodos ilegais para tentar obter informações sobre o Brasil.

Os documentos mostram o uso de escutas telefônicas e de violação de correspondência diplomática, nas décadas de 1990 e 2000, quando a Casa Branca foi ocupada por George Bush, pai e filho, e o Palácio do Planalto por Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso.

As descobertas complementam o que foi divulgado pelo site WikiLeaks ao longo dos últimos meses e reforçam o contraste entre o profissionalismo do Itamaraty e irregularidades por parte das autoridades dos EUA.

Os métodos de espionagem surpreendem não só pela truculência, mas pela insensatez, pois foram utilizados em períodos nos quais as relações entre Brasília e Washington eram marcadas pela vontade em alcançar entendimentos políticos, mesmo diante das divergências em temas como o refinanciamento da dívida externa brasileira ou as negociações da Alca.


CONTROVÉRSIAS


As revelações fazem pensar no que ocorreu em momentos de tensões e desconfianças entre os dois países, como na recente controvérsia com relação ao Irã.

Para além da ilegalidade das ações, os cidadãos dos Estados Unidos têm motivos para se irritar com o desperdício de recursos oriundos dos impostos.

O Brasil tem debate cada vez mais apaixonado sobre política externa e relações internacionais, com profusão de artigos em jornais e revistas, programas de TV e rádio, sites e redes sociais na Internet, estudos acadêmicos.

Em vez de pagar burocratas para espionar o governo brasileiro, seria mais vantajoso e barato ensinar-lhes português e ordenar que acompanhem a vibrante esfera pública do país.

Na era de aspirações globais por democracia, a diplomacia não é mais o reduto de reuniões a portas fechadas, mas uma política pública que se faz de forma transparente.

Louis Brandeis, ex-ministro da Suprema Corte dos Estados Unidos, certa vez afirmou: "A luz do sol é o melhor desinfetante." É também a mais competente das embaixadoras.

5 comentários:

Mário Machado disse...

Dr,

Falo sexta-feira sobre mídia e política internacional num evento em bsb. Por ser blogueiro falarei sobre as novas mídias. Algo que vc considere vital mencionar?

Desculpe pelo pedido, mas o material está pronto fica aquela coisa será que esqueci algo e nada melhor que perguntar a alguém do ramo.

Abs,

Maurício Santoro disse...

Salve, meu caro.

Excelente. Minha sugestão: mostrar que novas mídias podem ser usadas para o bem (revoltas árabes) e para o mal (distúrbios em Londres, extremismo político e religioso) etc.

abraços

Mário Machado disse...

Obrigado pela dica. A fala tem de tudo até um pouco de soft power e de "paradoxo da abundância". Será um bom evento.

Abs,

Karin Nery disse...

Olá, Maurício.

Excelente análise!Sensacional esse artigo!

Abraços.

Maurício Santoro disse...

Obrigado, Karin.

Amanhã o jornal deve publicar segunda leva de documentos. Estou na expectativa!

abraços