quarta-feira, 20 de julho de 2011

Um Curso sobre a Revolução Cubana



A Casa do Saber, no Rio de Janeiro, abriu inscrições para o curso que lecionarei em agosto. O tema é a Revolução Cubana, da guerrilha de Sierra Maestra aos impasses atuais. Cuba tem sido um assunto recorrente na minha produção acadêmica e estas aulas de algum modo resumem e complementam vários trabalhos anteriores.

Começarei com a discussão sobre a formação do regime marxista em Cuba, das lutas contra Fulgêncio Batista até a declaração de Fidel Castro sobre o caráter socialista do novo governo e a eliminação dos últimos focos de resistência armada, em 1965. Abordarei as medidas iniciais, como a reforma agrária e a nacionalização das grandes empresas, e os conflitos políticos entre nacionalistas, comunistas, opositores e governistas.

A segunda aula será para as guerras e conflitos internacionais da Revolução. Tratarei, claro, dos choques com os Estados Unidos, na invasão da Baía dos Porcos e na Crise dos Mísseis Cubanos. E falarei bastante sobre a diplomacia cubana na África e na América Latina, com o apoio às guerras de libertação colonial e as revoluções. Cada vez mais, esses temas têm sido abordados em trabalhos acadêmicos, como nos excelentes livros de Piero Gleises (o único a ter acesso aos arquivos da política externa de Cuba) e de Jorge Dominguez.

Talvez o ponto mais herotodoxo do curso seja uma discussão sobre a vida artística e cultural da Revolução Cubana, desde a década inicial, de intensa colaboração dos intelectuais e artistas com o governo, incluindo a construção de instituições importantes (Casa das Américas, ICAIC etc) até as crises iniciadas no fim dos anos 60, com longa sequência de perseguições e enfrentamentos. Minhas referências serão obras como a do historiador Rafael Rojas e o testemunho do romancista e diplomata chileno Jorge Edwards, enviado por Salvador Allende à ilha para restaurar as relações com o Chile. Ele era amigo íntimo de vários escritores perseguidos pelas autoridades e acabou em sérios problemas com o regime.

O curso se encerrará com o debate sobre Cuba no pós-Guerra Fria, e as diversas reformas econômicas empreendidas pelo governo para superar a perda do apoio da União Soviética. Discutiremos as mudanças políticas no país, como a ascensão de novas organizações da sociedade civil, como o Projeto Varela, e o caráter cada vez menos marxista e mais nacionalista do regime, bem como suas novas alianças internacionais, com a Venezuela de Hugo Chávez e com a China.

4 comentários:

Rogério de Souza Farias disse...

Aí Maurício, excelente iniciativa. Aproveita para expandir o tópico da "diplomacia" cubana na África e AL para outros aspectos que não os políticos nessas duas regiões. É impressionante como a música cubana é cultuada nos países da África com elos do outro lado na Cortina de Ferro. Há, também, muitas pessoas que falam um espanhol impecável graças aos programas de incentivo aos estudantes africanos em Havana.
Abraços!

Maurício Santoro disse...

Salve, meu caro.

Pois é, acompanhei seus comentários sobre a influência dos cubanos no Mali e quero destacar também o papel dos médicos e das bolsas de estudo na política externa de Cuba.

Abraços

Mário Machado disse...

O regime realmente usa bem sua cultura pra comprar simpatia para a opressão que realiza internamente.

E vamos sem querer ou querendo sendo cúmplices.. E o OZT vira um agente da CIA.

Cuba é sem dúvidas um tema relevante e que carece de debate desapaixonado e pragmático que creio será o tom desse curso.

Abs,

Maurício Santoro disse...

Salve, Mário.

Acho que a cultura foi uma arma diplomática importante do regime cubano até o fim dos anos 60, mas depois disso a situação piorou muito e os principais artistas e intelectuais da ilha acabaram presos ou exilados. Mas sem dúvida ficou um considerável rescaldo de simpatia pela Revolução Cubana em boa parte da esquerda latino-americana, e pouca disposição para criticá-la, mesmo diante de seus piores momentos.

abraços