sexta-feira, 17 de junho de 2011

Corrupção nas Mães da Praça de Maio



Os governos de Néstor e Cristina Kirchner têm sido marcados por escândalos de corrupção, que agora atingiram a mais respeitada organização de direitos humanos da Argentina: as Mães da Praça de Maio. Administradores da associação são acusados de ter desviado recursos públicos destinados a um programa de habitação popular.

O caso é revelador das relações entre o governo argentino e os movimentos sociais. É comum no país que essas organizações assumam o papel de intermediários entre a população e o Estado, administrando recursos oficiais e implementados políticas públicas na área social. Isso as transforma com frequência em cabos eleitorais, ou punteros, como são conhecidas essas figuras na Argentina. É prática antiga no peronismo e foi muito utilizada pelos Kirchner para lidar com os inquietos movimentos que surgiram durante a crise do país, como os vários grupos piqueteiros.

Nas Mães da Praça de Maio, a polêmica envolve os irmãos gêmeos Sérgio e Pablo Schoklender. Eles haviam sido presos por assassinar a seus pais e após cumprirem a pena, foram trabalhar como assistentes da presidente da organização, a sempre controversa Hebe de Bonafini. Há um bizarro paradoxo psicológico em ter filhos que mataram os pais servindo a mães cujos filhos foram assassinados, mas os Schoklender ascenderam na associação e um deles, Sergio, tornou-se diretor da fundação das Mães (na foto acima, com Bonafini).

Nesse cargo, ele é acusado de ter se apropriado de milhões de pesos, contruindo um patrimônio considerável que inclui iates e carros de alto luxo. Bonafini afastou os irmãos da organização, mas as acusações também a atingiram e muitos são os que pedem que também ela seja investigada. Ainda não está claro se isso irá ou não acontecer, mas já é um golpe duro no prestígio de uma associação respeitadíssima, e uma vez mais ilustra os perigos de relações pouco transparentes entre Estado e movimentos sociais.

6 comentários:

Mário Machado disse...

Essa esfera para-estatal que só é privada na hora de prestar (ou não) contas é um meio de cultura pra corrupção, principalmente quando o grupo é "unanimidade".

Lamentável mas já esperado.

"O" Anonimo disse...

Uau, que surpresa, nunca poderia imaginar uma organizacao de direitos humanos latino-americana, ligada ao ilibado peronismo, ser corrupta ate o fundo da alma...

Proxima noticia bomba: Faz frio na Antartica.

Luiz Rodrigues disse...

Essa particularidade da ligação dos movimentos sociais ao governo é mesmo muito singular. Até mesmo Menen, o trinufante neoliberal não abriu mão de sindicalistas (se não me engano até o Moyano foi puntero dele)...

Maurício Santoro disse...

Há um ditado que na Argentina que diz "o sindicalismo não se vende, se aluga". Infelizmente, isso é válido para muitos outros movimentos sociais também...

Abraços

Patricio Iglesias disse...

Meu caro:
Una notícia muito triste pra os que defendemos a continuidade da Memoria na Argentina. Imagina que não são poucos os que, com falácias, intentam destruir todo um trabalho de décadas por o erro de uns poucos.
Abraços

Patricio Iglesias

Maurício Santoro disse...

Salve, Patricio.

Compartilho a tristeza com a notícia, e espero que os problemas enfrentados pelas Mães possam levar a mudanças significativas nas relações entre o Estado e os movimentos sociais na Argentina.

A propósito, estarei em Buenos Aires no próximo mês, provavelmente entre o fim de julho e o início de agosto. Ficamos em contato para marcarmos um café con medialunas.

abraços