segunda-feira, 23 de maio de 2011

Keiko Fujimori



No mês passado escrevi sobre o tenente-coronel Ollanta Humala, o militar que tentou um golpe de Estado no Peru, chegou em segundo lugar nas últimas eleições presidenciais e agora, com discurso moderado, disputa novamente o cargo. Ele liderava a corrida, mas foi ultrapassado em maio por Keiko Fujimori, a filha de 35 anos do ex-ditador Alberto Fujimori. Os dois rivais estão empatados tecnicamente, mas Keiko é mais forte na capital, Lima, que concentra um terço do eleitorado. O segundo turno será no próximo dia 5.

Quando Fujimori brigou com a esposa, alçou Keiko ao cargo de primeira-dama,que ela ocupou com apenas 19 anos. Na função, ela exerceu diversas atividades filantrópicas, em geral relacionadas às crianças. Formou-se em administração de empresas nos Estados Unidos, onde casou-se com um americano, com quem tem duas filhas. Após a renúncia e prisão do pai, Keiko assumiu a liderança do movimento fujimorista, elegendo-se deputada com a maior votação de uma parlamentar no país.

O governo Fujimori foi uma tragédia em termos de ataques à democracia, corrupção e violações de direitos humanos, mas teve razoável desempenho econômico. Muitos peruanos valorizam sua política de controle da hiperinflação e as operações contra o Sendero Luminoso, que culminaram com a prisão da cúpula do grupo. O fujimorismo segue com forte base no Peru, em torno de 20% do eleitorado.

No Congresso e na campanha presidencial, Keiko fez da segurança pública seu principal tema, propondo leis mais rigorosas de combate ao crime e contratando o ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, como consultor. Sua atitude com relação ao governo do pai é criticar aspectos pontuais (como o trabalho do ex-braço direito de Fujimori, Vladimiro Montesinos, envolvido com crime organizado e corrupção) mas elogiar o conjunto da obra, inclusive negando o caráter ditatorial do período. Ela afirma que a prisão do pai foi injusta, mas que irá respeitar a decisão do Poder Judiciário.



A declaração é, naturalmente, recebida com enorme desconfiança no Peru. As organizações de direitos humanos do país lançaram a campanha “Fujimori Nunca Mais”, com vídeos como o mostrado acima, com depoimentos de pessoas que sofreram violações de direitos humanos por parte da ditadura. Mas a escolha não é fácil, pois Humala também é acusado de sequestros, assassinatos e torturas na guerra contra o Sendero.

A eleição peruana é grave e ilustra o dilema do país que mais cresceu economicamente na América do Sul ao longo da última década – até 9% ao ano, ritmo chinês. Houve redução da pobreza e melhoria das condições de vida, ainda que marcadas por muitos conflitos sociais, em particular na região amazônica. Contudo, os candidatos que representavam esse modelo de desenvolvimento, como o ex-presidente Alejandro Toledo, foram muito mal e sequer chegaram ao segundo turno, para a surpresa de analistas veteranos como o sociólogo peruano Julio Cotler. A população optou por políticos que trazem uma mensagem de crítica radical ao sistema vigente.

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