segunda-feira, 25 de abril de 2011

Os Protestos na Síria



Não escrevo sobre as revoltas árabes há algumas semanas. O cenário é marcado pela decisão do presidente do Iêmen em renunciar, a persistência do impasse político-militar na Líbia e o aumento dos protestos na Síria, que começam a despontar como uma ameaça real ao regime do partido Ba´ath.

O partido foi fundado no pós Segunda Guerra Mundial como uma mistura de nacionalismo pan-árabe com ideais sociais vagamente socialistas. A principal base de apoio eram as minorias religiosas, o teórico mais importante do Baath era cristão e com o tempo os alauítas – uma seita do xiismo – ascenderam à liderança partidária, reproduzindo a posição proeminente que tinham na polícia e nas Forças Armadas, desde a época do protetorado francês sobre o país.

O Ba´ath governa a Síria desde a década de 1950 e a maior parte desse período foi sob a família Assad. Começando pelo pai, Hafez, um oficial da Força Aérea que dominou o país com mão-de-ferro, esmagando uma rebelião da Irmandade Muçulmana em Hama, em 1982, ao custo de 20 mil mortos e da destruição de boa parte da cidade. Ele envolveu a Síria em duas guerras desastrosas com Israel (1967 e 1973), num longo envolvimento na guerra civil do Líbano e numa aliança com o Irã contra o inimigo comum, o Iraque.

O atual presidente, Bashar al-Assad, é filho de Hafez, mas não era o herdeiro políico do pai. O posto cabia a seu irmão, que morreu num acidente. O imprevisto forçou Bashar a abandonar a carreira de médico oftamologista na Inglaterra e assumir o negócio da família: governar a Síria. As leis tiveram que ser alteradas, pois à época de sua nomeação para presidente (1999) ele tinha apenas 35 anos e era jovem demais para o cargo.

Bashar talvez fosse o mais popular entre a atual leva de autocratas nos países árabes, em grande medida porque era visto como alguém de fora do sistema corrupto do Baath, que poderia reformar o país. Em termos econômicos, promoveu a liberalização e abertura, mas nada tão diferente do que foi feito no Egito de Mubarak e até na Líbia dos últimos 10 anos. Não houve reformas políticas significativas – a minoria alauíta que governa o país sabe o quanto é vulnerável diante de qualquer movimento de oposição que possa conquistar o apoio dos sunitas.

O atual ciclo de protestos na Síria começou exatamente das pequenas cidades sunitas, com slogans e exemplos das demais revoltas árabes, e até o momento não conseguiu se consolidar nas maiores metrópoles do país, Damasco e Alepo. O jovem Assad responde com uma mistura de concessões (como abolir a Lei de Emergência, que lhe dá poderes ditatoriais) e repressão, com centenas de mortos. Contudo, não estamos mais no tempo de seu pai, onde era possível arrasar uma cidade como Hama para se manter no poder.

A sobrevivência do regime Ba´ath é incerta, bem mais do que, digamos, a monarquia da minoria sunita no Bahrein. As relações externas de Assad foram marcadas por tentativas um tanto frustradas de diálogos com inimigos tradicionais como Estados Unidos, Israel e Turquia. Nenhum dos governantes desses países o considera como um pilar indispensável da estabilidade e muitos acreditam que um regime baseado na maioria religiosa síria teria mais força para fazer concessões, sem ter o peso das derrotas militares do Ba´ath, como a perda das Colinas de Golã.

2 comentários:

Mário Machado disse...

Dessa vez o Irã não veio falar que era uma nova encarnação da Revolução Islâmica. Algumas coisas são previsíveis... outras como o futuro dessas revoltas já não é.

Abs,

Maurício Santoro disse...

A Síria é um caso delicado para o Irã, porque os dois países são aliados. Se o regime do Ba´ath cair, fica difícil para os aiatolás.

abraços