segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A Primeira Exportação a Gente Nunca Esquece



Ariel Palacios, correspondente do jornal Estado de São Paulo na Argentina, tem um excelente blog sobre o país. Na semana passada publicou um de seus textos mais saborosos, comentando a primeira exportação de manufaturados de lá para o Brasil. Ocorreu no século XVI, quando ambas as nações eram governadas pelo reis Hapsburgo em Madri, durante o período da União Ibérica. Nessa época de concórdia, o bispo de Córdoba mandou um carregamento de têxteis para o governador-geral do Brasil. A data é celebrada como o Dia da Indústria na Argentina.

Até aí, tudo muito edificante, para a educação dos povos e fraternidade das nações. Mas como a Argentina já era a Argentina, e o Brasil já era o Brasil, a negociação foi marcada por corrupção e contrabando. O bispo despachou prata da Bolívia, às escondidas, junto com a mercadoria, e trouxe dos portos brasileiros escravos africanos para as minas andinas. No entanto, o carregamento foi atacado por piratas ingleses, e o príncipe da Igreja acabou na pior. Nada como a História para mostrar que a globalização não começou ontem, e que os problemas na relação bilateral entre os maiores países sul-americanos também vêm de longe.

E continuam interessantes. O vídeo abaixo mostra o Secretário de Comércio Interior da Argentina, Guillermo Moreno. As imagens são de uma reunião entre Moreno e empresários de mídia do Grupo Papel Prensa, que tem representantes do Estado, do Clarín e do La Nación. Os Kirchner atualmente têm péssimas relações com ambos os jornais, embora no passado tenham sido aliados do Clarín. O resultado é que Moreno utiliza métodos heterodoxos de convencimento, que incluem luvas de boxe.



Apesar do título do cargo, Moreno também se ocupa da pauta externa. O equivalente funcional dos jabs na relação comercial com o Brasil são as licenças não-automáticas de importação. Supostamente, é uma ferramenta de política pública para proteger setores estratégicos da economia. Na prática... Digamos que criar dificuldades gera um promissor mercado para a venda de facilidades, como já sabiam os bispos e governadores do século XVI.

3 comentários:

Mário Machado disse...

Olhando praticamente, sem as ideologias sempre presentes nessas discussões mas quanto maior o estado maior a corrupção. Vi outro dia no History ou no Discovery a história de um funcionário de um Faraó que fora executado por corrupção - era uma espécie de chefe de polícia do vale dos reis -.

Abs,

Maurício Santoro disse...

Plus ça change, plus c´est la même chose...

abraços

Patricio Iglesias disse...

Meu caro:
Lembrava ter lido no livro de Schvarzer sob issa exportação, mas não savia nada do caso da corrupção. Interessante pra os que vivem falando de a "honestidade" do passado.
Abraços

Patricio Iglesias