quarta-feira, 16 de junho de 2010

O Declínio do Egito



Vai ser preciso tempo até ficar definido com clareza quem ganhou com as recentes crises no Oriente Médio, mas já está bastante evidente que o Egito é um dos principais derrotados. Impressiona o contraste entre a liderança regional que o país exerceu nas décadas de 1950/1970 e o papel secundário que tem desempenhado diante da ascensão de nações não-árabes, como Turquia e Irã.

O Egito foi um dos primeiros territórios árabes a se separar do império otomano, mas a busca por autonomia (por exemplo, sob o governo de Mohmamed Ali na primeira metade do século XIX) esteve permeada pelas intervenções estrangeiras: a invasão de Napoleão, o colonialismo britânico. Em 1952, um grupo de jovens oficiais do Exército derrubou o rei Farouk e proclamou uma república, baseada nos ideais do nacionalismo árabe e de vago socialismo econômico. Seu líder, o coronel Gamal Nasser, tornou-se a principal figura política do mundo muçulmano, e um jogador importante na política internacional.

Nasser (foto abaixo) nacionalizou o Canal de Suez, mas envolveu o Egito em três guerras desastrosas: contra Grã-Bretanha, França, Israel, no conflito interno do Iêmen e terminou por se aliar à União Soviética. Morreu desiludido, mas com ampla gama de admiradores nos países árabes. Foi sucedido por outro militar, Anwar Sadat, que após a derrota na guerra do Yom Kippur reorientou sua política externa, foi a Israel pedir paz e firmou acordos com os Estados Unidos. Foi morto em 1981 por um jovem tenente que o considerava traidor do Islã e do Egito.



O vice-presidente Hosni Mubarak, um general da Força Aérea, assumiu o poder com o assassinato de Sadat. Em quase trinta anos de governo ele alinhou o Egito firmemente com os Estados Unidos e Israel. Se Nasser foi o principal defensor da causa palestina, Mubarak colaborou com os israelenses na guerra de Gaza. Pesa sua dependência da ajuda econômica estrangeira, e também sua percepção de que depende dessas alianças externas para fazer do filho seu sucessor, numa disputa que pode se tornar acirrada com a entrada em cena de rivais como Mohamed El-Baradei, o ex-presidente da Agência Internacional de Energia Atômica. O declínio econômico do país é impressionante, com a favelização do Cairo e a deterioração generalizada dos serviços públicos.

Mubarak conquistou apoio do Ocidente colocando-se como a opção mais segura contra o fundamentalismo islâmico – a Irmandade Muçulmana tem sido uma força importante no Egito desde os tempos de Nasser. Com as perseguições que sofreram, muitos militantes religiosos fugiram para a Arábia Saudita e, entre outros pupilos, formaram Osama Bin Laden. Embora seja oficialmente proibida, influencia de maneira decisiva a sociedade egípcia, com ativistas liderando associações profissionais, organizações cívicas e com presença no parlamento.

As tímidas pressões dos Estados Unidos pela democracia no Egito foram abandonadas com medo de que a Irmandade Muçulmana fosse a principal beneficiada. Ainda assim, houve avanços importantes no equilíbrio de forças no país. O Egito hoje é um regime híbrido, onde a autocracia enfrenta restrições constitucionais crescentes.

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