quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Por que a FAB prefere o Gripen



O relatório da Força Aérea Brasileira que classifica o caça sueco Gripen como a melhor opção para a renovação da frota brasileira e que aponta o francês Rafale como o pior entre os finalistas colocou o presidente Lula numa situação constrangedora – por sua própria culpa. Em setembro, ele aproveitou a visita de Sarkozy para anunciar a decisão de comprar os aviões da França, no âmbito do amplo acordo militar entre os dois países. Mas o fez à revelia dos procedimentos jurídicos corretos, antecipando-se à avaliação técnica da Aeronáutica. O troco veio agora e agrava a crise entre o governo e as Forças Armadas.

Há boas razões para a FAB preferir o Gripen. O Rafale é um avião novo, que jamais foi vendido para outro país fora da França. Por conta da pequena escala de produção, seus custos, incluindo os de manutenção, são extremamente elevados. Cerca do dobro do caça sueco. Além disso, os militares temem que o Rafale não consiga se consolidar no mercado internacional, e que a Dassault, empresa que o fabrica, acabe por retirá-lo de circulação, o que traria grandes dificuldades na obtenção de peças de reposição.

Além disso, há a questão da transferência de tecnologia. Os franceses prometeram muito, mas há muito ceticismo dos técnicos brasileiros quanto à proposta da Dassault. Em minhas conversas com os engenheiros da Embraer, ficou claro que a empresa prefere a SAAB sueca. O modelo do Gripen que está sendo oferecido ao Brasil é um novo projeto, que seria desenvolvido em parceria com a firma brasileira. Como me explicaram em São José dos Campos, esse formato permite um aprendizado muito mais rico e intenso por parte da Embraer, que já tem experiência nesse tipo de projeto em função de acordos anteriores com a Itália, para a construção do AMX.

O presidente Lula não é obrigado legalmente a aceitar a recomendação da FAB e pode optar pelos caças Rafale. Naturalmente, será uma decisão política: aceitar um produto inferior em razão dos benefícios oferecidos pela aliança com a França, seja no campo propriamente militar (a parceria na construção do submarino nuclear, a compra dos helicópteros) seja no apoio à obtenção dos objetivos da política externa brasileira.

Mas é claro que uma escolha desse tipo desgastará ainda mais as relações do governo com as Forças Armadas. É hora de boas conversas para aparar as arestas entre a elite civil e a cúpula militar, antes que alguém se corte a sério nelas.

14 comentários:

Marcelo L. disse...

Prezado Mauricio,

Como alguns assuntos que só vejo discutidos com profundidade aqui, o dos caças é daqueles que dá muito lenha para queimar...

O caça françes parece que em todas concorrências que perdeu foi o melhor colocado (pelo menos Marrocos e Corea ocorreu isso e e agora parece que ficou em segundo na Suiça atrás do f-35).
As críticas que o fazem como nunca foi vendido é verdade, mas o F-18 além dos EUA, conseguiu emplacar apenas na Australia, o NG é um projeto ainda e perdeu em todos os lugares até na Suécia existe promessa que se for vendido para algum país será comprado.

A situação da Daussalt não é boa, mas a da Saad é pior ainda, por que a Suécia cortará a atual frota para 60 aviões, portanto não precisão dos NG até por que a repblica Tcheca deve devolver em 2016 os seus grippen c/d.

Achei um erro ese short-list que são aviões de geração 4 ou 4.5, deveram tornar-se obsoletos em breve com a 5 geração comandada por f-35, f-22, pakas,e possivelmente um chines, por isso já li muita gente defender um F-16 com transferência de tt (que seria o que podemos absorver mesmo) e esperar mais 10 anos para termos um grande caça.

A minha modesta opinião é se a presidência conduziu mal a fab também, por que adiou um relatório que ela se obrigou para julho que favoreceu o F-18 e a escolha final dos caças é estranha se for para escolher o menos potente por ser mais barato por que tiraram o caça russo e o F-16?

Pelo que leio há de tudo nos lobbys desde o do Raffa, F-18 e Grippen, por sinal os suecos foram os mais intelegentes fecharam acordos já com grupos industriais brasileiros, um deles do diretor da fiesp para área.

Você sabe e já trabalhou na área de comércio exterior, não querendo ser indiscreto, mas vc acredita que é possível o Brasil absorver via BNDES os empréstimos e acordos de compensação comercial para vender caças como os querem para termos um caça nacional?

A minha conclusão é qualquer que seja a escolha teremos um sucesso de vendas no campo militar igual ao AMX, se o Grippen for escolhido que seja, mas que exista uma golden share nas empresas nacionais escolhidas para receber a tt de graça, caso contrário podemos te-las vendidas rapidamente já que valerão uma fortuna (só lembrando várias concessões do governo federal foram já vendidas por uma fortuna, o caso mais escandaloso ao meu ver foi o da Abril para telefonica, por que a primeira nem investiu e agora marchamos para um monopolio aqui em São paulo).

PS: A bola da vez vai ser a compra de helicopteros parece que vem denúnica aí, sobrando para governo federal e o de MG.

Marcelo L. disse...

Mauricio,

Além dos erros, que fiz o texto correndo, a questão do caça do nacional é um caça para exportação, acredita que seja possível e termos dinheiro e projeção geo-política para isso?

Mário Machado disse...

Em uma feliz coincidência escrevo algo muito similar em meu blog. A decisão que for tomada deverá ser bem comunicada a comunidade de defesa para justamente aparar as arestas, mas a desconfiança dos militares quanto aos franceses não é um bom signo para uma cooperação, mas também não é insuperável.

Será uma decisão difícil por que o que não falta são interesses contraditórios nesse caso.

Por isso há entre os analistas na mídia e inclusive do portal defesa net um 'medo' de que o processo de novo suba no telhado.

Marcelo L. disse...

Sei que não é muito elegante, Mauricio e Mario, mas como vcs estão discutindo aqui http://panoramaglobal-estrategia.blogspot.com/ é uma visão de quem está no Congresso Nacional e acompanha o caso, o Pepe é assessor do PSDB e tem bons serviços prestados à nação, impedindo uma mamata que vinha de geração em geração de vendas de "produtos" a nação.

Marcelo L. disse...

errata: produtos a marinha

Mário Machado disse...

Escrevi sobre isso tenho alguma experiencia com essas concorrencias e é muito dificil conseguir se informar. Por isso mesmo me afasto de juízos definitivos. Muito boa fonte Marcelo.

athalyba disse...

Gde Mauricio !!!

Vamos por partes:

1) O relatório vazado é de setembro, antes do recebimento das propostas melhoradas dos concorrentes. Espuma pura pra tumultuar o ambiente.

2) Como assim, tirar o Rafale de circulação ??? Isso é uma estultice !!! O Rafale vai substituir todos (eu escreví TODOS) os vetores aeronáuticos das FA´s francesas !!! Essa ilação não tem NENHUM fundamento, a não ser no caso de falência da Dassault.

3) Acompanho esse assunto desde o primeiro dia e posso te garantir uma coisa: o que a Embraer quer não tem a ver com o que o Brasil precisa. Se for pra levar em conta a opinião de empresas privadas (mesmo com Golden Share), eu escolheria ouvir a Mectron, a Orbisat ou a Akaer, mesmo sabendo que essas empresas tb tem uma queda pelo Grifo (assim como eu).

4) Como assim "aceitar um produto inferior" ??? Mauricio, o Rafale é um avião testado e aprovado no TO do Afeganistão, participou da DPAC nos Emirados Árabes e deu um baile até no F-22, o melhor caça ianque e vc ainda diz que ele é um produto inferior ??? Pisada na bola federal a sua !!!

Como eu disse, tb acho o Grifo uma opção bem interessante, mas até agora os suecos não esclareceram as TT´s, já que o avião tem peças e tecnologias de meio mundo. Já o Rafale só tem um e apenas um detentor das tecnologias: a França.

Além do mais, o preço alto se explica fácil fácil: os custos de desenvolvimento do caça francês estão na casa dos quarenta bilhões de euros e a gente quiser essa tecnologia, ela vai ser cobrada.

abcs

Ps: Deixa eu lançar um off topic ??? Você poderia falar um pouco sobre os assassinatos em série que estão ocorrendo em Honduras ??? A coisa está ficando cada vez mais feia por lá e o assunto sumiu do noticiário ...

Maurício Santoro disse...

Caros,

são mesmo muito temas para responder de uma só vez, mas tentarei resumir a ópera.

Há posições distintas na questão envolvendo pelo menos três grupos de atores: Presidência/MRE, FAB e Embraer. Cada uma tem seus próprios objetivos institucionais e sua perspectiva de ver as coisas.

Minha opinião é que o Brasil deve privilegiar, na compra dos caças, o pacote que permitir a maior transferência de tecnologia, incluindo, no médio prazo, a possibilidade de que o país desenvolva um modelo próprio de um avião desse tipo. Isso reduz as opções às escolhas do Rafale ou do Gripen.

Do ponto de vista puramente militar - isto é, a qualidade do caça como uma arma de guerra - sua principal função será de dissuação. Os oficiais da Aeronáutica com quem conversei, ou de quem li opiniões, manifestaram preferências diversas pelo Gripen, pelo Sukkoi ou pelo F-18.

Nenhum deles - repito, nenhum deles - apontou o Rafale como o melhor.

É improvável que o Brasil se envolva no futuro próximo em qualquer conflito que exija o uso de armamento desse tipo. Nossos problemas de segurança na região, como mostra o caso recente do Suriname, requerem outro tipo de abordagem.

Mas a discussão é boa. Aguardemos os desobramentos.

Com relação a Honduras, dei uma olhada nos sites da BBC e do El País e não achei nada sobre assassinatos em série. Vi apenas a notícia recém-postada de que o Ministério Público do país indiciou a cúpula militar pelo golpe contra Zelaya, embora exista a expectativa de que o Congresso decrete uma anistia política até o dia 27 de janeiro, quando Porfirio Lobo tomará posse.

Abraços

athalyba disse...

Mauricio,

O F-X2 realmente é o típico iceberg: a gente vê a ponta, mas o que faz a diferença está abaixo da linha d´água ;-)

Espero que vc volte à essa assunto mais tarde, mas acho que a pedra angular dessa discussão deveria ser a disponibilidade imediata de conhecimento tecnológico pra ser absorvido o mais rapidamente possível por nossas instituições, ao mesmo tempo que não desguarnecemos nossa defesa. Apesar de não termos no horizonte nenhum sinal de conflito, é sempre bom termos uns bons porretes à disposição, né não ???

Sobre Honduras: lí uma matéria assustadora no Counterpunch, com nomes e sobrenomes de vários líderes da Resistência ao Golpe que foram assassinados nos últimos tempos:

http://www.counterpunch.org/shansky01052010.html

Sds

Maurício Santoro disse...

Athalyba,

Obrigado pela referência. A denúncia é bastante séria, e muito verossímil. Os esquadrões da morte foram extremamente atuantes em Honduras, durante a ditadura militar, e tradições como essas demoram a morrer...

Vou buscar mais informações em outras fontes e escrevo se souber de algo.

abraços

Mário Machado disse...

Sem contar que Honduras é a terra das temiveis 'maras' não falta gente violenta.

Maurício Santoro disse...

É verdade... E não se falou das Maras nessas crises todas, como será que elas se posicionaram? Devem ter agido a serviço de alguém, são muito poderosas para serem deixadas de lado num momento de disputa pelo poder.

abraços

Denny Thame disse...

Marcelo L.
Não entendi sua referência à falta de investimentos da Abril antes de vender para a Telefonica. Você está falando da participação acionária da TVA, certo? Na verdade o investimento da Abril na TVA foi uma experiência visionária do Roberto Civita que foi tolhida pela crise cambial do gov. FHC. Foi justamente o investimento em dólar na TVA que atravancou o desenvolvimento da Abril esses anos todos. Seria mesmo ótimo que tivéssemos a TVA e a UOL ainda com a Abril, (essa empresa mexe com o nosso imaginário desde os gibis e a Super, né?) mas fechar o balanço do core business editorial deve ter sido a prioridade.

Anônimo disse...

Cancelem logo esse FX-2 que incluem caças já ultrapassados e abram o FX-3+ com disputa entre F-35 e PAK-FA.
um abraço a todos!