quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O Boom do Cinema Sul-Africano


O cineasta Walter Salles Jr. certa vez observou que um país costuma passar por um boom cinematográfico 15 anos após um grande acontecimento histórico. Ele citava como exemplo as nações da Europa Oriental, particularmente a Romênia, mas sua percepção se adapta à perfeição ao que acontece com a África do Sul. Década e meia depois do apartheid, diversos filmes estão em produção sobre aquele período.

Um deles é Distrito 9, inesperado sucesso nas bilheterias dos Estados Unidos. Dirigido pelo jovem cineasta sul-africano Neill Blomkamp, ele conta uma parábola sobre racismo e discriminação, usando como pretexto o mau tratamento que os humanos de Johannesburg dão a um grupo de alienígenas que desembarca na cidade.

Mas minha maior expectativa está com o “Clube do Bang Bang”, ainda em produção. É a história de um grupo amigos fotojornalistas que cobriu os momentos mais dramáticos da transição do apartheid para a democracia, como o conflito entre os xhosa e os zulu que quase cortou o país em dois. Algumas das imagens que os repórteres registraram se tornaram símbolos de uma época, como a imagem abaixo – de um homem queimado durante os choques étnicos – que ganhou o Prêmio Pulitzer.



Para além da importância jornalística do grupo, adorei a idéia de contar uma parte importante da história de um país por meio do trabalho de amigos repórteres. Fiquei pensando na riqueza do que aconteceu no Brasil nos últimos anos. Digamos, do fim da ditadura ao governo Lula. E em como o cotidiano meio maluco da imprensa é uma ótima maneira de olhar essas situações.

Outra boa pedida será a adaptação para o cinema do romance “Desonra”, de J. M. Coetzee, uma elogiadíssima trama de violência e degradação sobre a África do Sul pós-apartheid. O livro toca em tantos pontos polêmicos que nenhum produtor do país topou financiar o filme, o dinheiro saiu de investidores australianos. Coetzee, Prêmio Nobel de literatura, é um cronista talentoso e amargo das agruras de sua terra natal.

Um conto mais ameno será o que fala sobre a relação de Nelson Mandela com o rugby. Quando foi presidente, Mandela o usou habilmente para promover a integração racial e o espírito de solidariedade nacional, conseguindo fazer com que os negros se entusiasmassem pelo esporte, até então associado quase exclusivamente aos brancos.

2 comentários:

Patricio Iglesias disse...

Meu caro:
Qué ótimo! E pensar que ainda não chegou a onda expansiva à Argentina... se algum dia va chegar. Qué pouco interessa a África aos argentinos, e isso que está muito mais cerca do que a Europa e tivemos uma considerável imigração africana ao longo da história!
Saludos!

Maurício Santoro disse...

Mais cedo ou mais tarde algo chegará por aí... Aliás, vai começar no Brasil um festival sobre o cinema argentino dos anos 2000. Minha presença, claro, está confirmadíssima!

Abraços