sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Um Olhar sobre os Jovens Sul-Americanos


Na quarta-feira estive em Campos, para dar palestra no programa de pós-graduação em sociologia política da Universidade Estadual do Norte Fluminense. Apresentei aos alunos as pesquisas sobre juventude sul-americana nas quais tenho trabalhado. Foi uma excelente tarde de troca de idéias e de experiências.

Chamei a atenção deles para as possibilidades oferecidas a pesquisadores em ONGs e movimentos sociais. Há vida e oportunidades fora do circuito acadêmico tradicional, em particular agora, em que as grandes agências financiadoras da cooperação internacional estão interessadas em entender as transformações sociais em curso no Brasil. Com mais recursos, podemos investir a sério em pesquisa e obtivemos resultados promissores misturando ferramentas qualitativas (grupos focais, entrevistas) com quantitativas (pesquisas de opinião pública).

Por exemplo, há poucos dias o IBOPE aplicou para nós extenso questionário para 15 mil pessoas, em seis países sul-americanos: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. Metade dos entrevistados é jovem, os demais são adultos ou idosos. Nossa intenção é comparar as atitudes, valores e hábitos de participação política, procurando descobrir se existem diferenças significativas entre as faixas etárias.



Algo que despertou a curiosidade dos alunos foi a metodologia dos Grupos de Diálogo, instrumento desenvolvido pela ONG Canadian Policy Research Networks. Trata-se de processo longo, que pode levar dias inteiros, nos quais pessoas envolvidas com determinado tema trocam idéias e discutem modelos de participação, até chegar a consensos sobre os melhores caminhos. O compromisso com o diálogo e a democracia é uma expressão da admirável cultura cívica do Canadá. No Brasil, começamos a aplicar o método nos estudos sobre juventude, e recentemente o usamos também em pesquisa com os beneficiários do Bolsa Família. Os resultados foram tão bons que os canadenses nos convidaram a apresentar as adaptações e mudanças que fizemos por aqui, adotando algumas delas.

“Método” vem do grego e significa caminho, e mesmo as melhores ferramentas só são úteis se sabemos aonde queremos chegar. Pesquisas realizadas por ONGs sempre tem intenso compromisso político, o que me agrada muito, acho que dificilmente me adaptaria a fazer algo que fosse apenas teórico. No caso dos levantamentos sobre juventude, os objetivos são entender os novos movimentos sociais juvenis, identificar suas principais demandas e contribuir para a formulação de políticas públicas na área, tanto nos níveis nacionais quanto no Mercosul.



Se você lê este blog há algum tempo já deve ter acompanhado várias das nossas atividades. Basicamente, encontramos entre os jovens seis reivindicações principais: sobretudo educação e trabalho, mas também cultura, meio ambiente, circulação (movimentos de passe livre) e o que chamamos de “vida segura”, que abarca direitos humanos e segurança. Houve enorme convergência nos seis países que estudamos em torno dessas demandas, o que me surpreendeu. Imaginava que fossem surgir diferenças bem mais expressivas entre nações com nível de desenvolvimento econômico bem diverso, como Brasil e Paraguai.

Outro ponto que chamou a atenção dos alunos foi a multiplicidade dos atuais movimentos juvenis. Houve uma época em que eles eram quase sinônimo de mobilizações estudantis. De fato, elas continuam muito expressivas, mas agora são acompanhadas por várias outras organizações, ligadas à cultura, às identidades étnicas, às questões de gênero. Também estão mais populares, incorporando mais os pobres, deixaram de ser majoritariamente de classe média.



Enfim, há mais atividades que desempenho na área e em breve comentarei sobre elas. Para quem está no Rio de Janeiro, na próxima quarta-feira, dia 8 às 14h darei palestra sobre movimentos juvenis e políticas públicas na América do Sul, na PUC, na Semana de Relações Internacionais da universidade.

Imagens do Post:

1)Hip hop aymara, centro cultural Wayna Tambo, em El Alto, Bolívia.

2) Hijos por la Identidad y la Justicia, contra el Olvido e el Silencio (filhos de militantes políticos assassinados pela ditadura), Buenos Aires Argentina.

3) Protesto de secundaristas durante a "Rebelião dos Pingüins". Valparaíso, Chile.

4) Jovem camponês do movimento Asagrapa, em ocupação de terras na província de Alto Paraná, Paraguai.

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