domingo, 15 de junho de 2008

Os Corpos da Paz no Brasil



Na campanha eleitoral que culminou em sua vitória à presidência, Kennedy fez discursos famosos no qual ressaltou que a velha fronteira oeste dos Estados Unidos estava completa, mas que havia uma “nova fronteira” a desbravar, o mundo em desenvolvimento. Promover o bem-estar, conter o comunismo e criar um instrumento para o idealismo de uma jovem geração que despontava o levaram a fundar os Corpos da Paz, que levou voluntários aos países pobres. Naqueles anos do calor pós-Revolução Cubana, Kennedy afirmou que a América Latina era “a região mais perigosa do planeta” e focou sua atenção no Brasil, em particular no Nordeste. A saga é contada no excelente livro da historiadora Cecília Azevedo, “Em Nome da América: os Corpos da Paz no Brasil”.

Soube do trabalho por acaso, através de uma amiga que foi aluna da autora. A primeira metade do livro narra a criação dos Corpos da Paz e destaca o quanto a instituição devia ao imaginário mobilizado por Kennedy e por seu ativo cunhado, Sargent Shriver, que mobilizaram os mitos tradicionais dos pioneiros e missionários americanos para os novos propósitos. A oposição conservadora protestou, acusando a nova agência de ser um refúgio para radicais e jovens que queriam fugir do alistamento militar.

Contudo, a tensão entre idealismo juvenil e os objetivos de política externa americana, em particular a contenção ao comunismo, permearam toda a história dos Corpos da Paz. Muitas vezes os voluntários da organização se rebelaram contra as diretrizes de Washington e questionaram os objetivos de suas missões.




No Brasil, as atividades dos Corpos da Paz foram numerosas e ocorreram no Vale do Rio São Francisco, nas favelas do Rio de Janeiro, na zona metropolitana da recém-fundada Brasília, na Bahia e no Mato Grosso. A maior parte dessa história é formada por desentendimentos, problemas de comunicação, treinamento inadequado e recursos insuficientes. Com freqüência, os americanos foram recebidos com desconfiança ou mesmo hostilidade. Mas também há casos bonitos de superação de dificuldades, crescimento pessoal e aumento da capacidade de diálogo entre culturas – sobretudo no projeto baiano, que se tornou referência para a agência. Aliás, os veteranos dos Corpos da Paz no Brasil mantém belo site, cheio de narrativas interessantes e carinhosas sobre o país.

Os Corpos da Paz ainda existem, mas deixaram de atuar no Brasil em 1981, depois que as relações entre Washington e a ditadura militar azedaram por causa do programa nuclear brasileiro e das violações de direitos humanos. A agência também passou por momentos difíceis nos governos republicanos, que a consideraram herança incômoda da administração Kennedy.



Curiosamente, no pós-11 de setembro a necessidade de tarefas de reconstrução nacional no Afeganistão e no Iraque tem levado à revalorização da experiência dos Corpos de Paz. Há muito do espírito de Kennedy em Barack Obama, e não é à toa que aquela família quase-real o adotou. O senador Edward Kennedy (foto acima) fez um discurso tocante no qual citou seu falecido irmão-presidente para dizer que Obama assumiu a tocha da nova liderança do país.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu acho que a questão dos direitos humanos podia até ser um pretexto, mas não um motivo real para o afastamento entre EUA e Brasil. Afinal, as violações foram bem maiores na virada dos anos 60 para os 70. O motivo principal foi mesmo o acordo nuclear com a Alemanha, não?

Maurício Santoro disse...

Marcus,

a questão dos DH ganhou destaque porque Carter, ao assumir a presidência dos EUA, a colocou em primeiro plano em sua política externa. Muito como uma reação ao Vietnã, Watergate e ao apoio incondicional às ditaduras na América Latina. Mas claro que o problema nuclear também pesou.

Abraços