segunda-feira, 31 de março de 2008

Os Blogueiros contra Raúl Castro


Na semana passada, Elio Gaspari escreveu coluna sobre os conflitos entre os blogueiros cubanos e o governo Raúl Castro. O mesmo tema também está em debate no ótimo site Global Voices Online, que oferece links para as vozes dissidentes em Cuba.

A discussão acontece em meio ao sentimento predominante de frustração com as primeiras medidas do caçula dos irmãos Castro. Seus gestos iniciais parecem ter sido calculados para sinalizar boa vontade à comunidade internacional. Contudo, são tão pouco significativos apontam apenas para mudanças cosméticas, que não abordam as demandas da população cubana por abertura política. Para o sociólogo mexicano Jorge Castañeda, é a tentativa de uma "solução à chinesa", mas que esbarra na importância que a democracia adquiriu na América Latina após décadas de ditaduras e violações de direitos humanos.

O governo anunciou a adesão a dois instrumentos internacionais de direitos humanos: o Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e o Pacto dos Direitos Civis e Políticos. Ambos são acordos firmados na década de 1960. O primeiro trata sobretudo do acesso à educação, saúde e proteção sócio-econômica, temas nos quais Cuba tem bom desempenho. O segundo aborda questões mais delicadas para o regime socialista, como eleições livres, liberdade de associação e críticas à pena de morte. O texto tem ressalvas e ambigüidades, ainda assim é uma pequena vitória para os dissidentes, uma vez que o Estado reconhece (pelo menos simbolicamente) a legitimidade de seus protestos.

A segunda medida anunciada por Raúl Castro foi a liberalização da importação de diversos eletrodomésticos, como computadores, DVDs, telefones celulares e torradeiras. O pretexto oficial é que isso só foi permitido agora por questões ligadas à melhoria do abastecimento de eletricidade. Tudo bem no que diz respeito a torradas com geléia, mas o acesso à informática é restrito por questões de controle da informação. Entrar na Internet em Cuba é tarefa cara e sujeita a controles e à censura governamental.

Se você checar os links do primeiro parágrafo, verá que nem assim o regime conseguiu impedir o surgimento de uma rica cena blogueira em Cuba, que utiliza truques e esperteza para burlar os impedimentos oficiais. O blog mais acessado da ilha é o Generación Y, da filóloga Yoani Sanchéz. Ela escreve muito bem e pega os assuntos pela veia. Leiam o que escreveu sobre a liberalização dos eletromésticos:

Al igual que los últimos rumores, el “tan-tan” comienza en el extranjero pero en las tiendas de mi barrio nadie sabe nada del “aluvión tecnológico”. Tanto desespero por los cambios que no llegan, me ha hecho creer que sí, que el veto para comprar ordenadores se levanta, o mejor dicho, se desvanece ante su ineficacia.

Con varias décadas de atraso, un memorando permitirá comercializar esos circuitos electrónicos, chips y lectores ópticos que crean, reproducen y difunden información. La razón para no venderlos antes, no había sido el consumo eléctrico, ni el temor a las diferencias sociales, sino que -hasta ayer mismo- podían controlar su expansión. Desde que un Ipod cabe en un bolsillo, un minidisk almacena varias películas y en la delgada barriguita de un Memory Flash viajan un centenar de documentos ¿qué sentido tiene prohibirlos? Para qué desgastarse en una pelea que ya tiene un ganador: la tecnología.

2 comentários:

Patrick disse...

Mas os EUA deram um ótima desculpa para os altos custos da Internet em Cuba: proibem a conexão de fibra ótica entre a ilha e a Flórida (de quem dista cerca de 100km). Internet via satélite, para todo um país do tamanho de Cuba, é absolutamente inviável.

Maurício Santoro disse...

Patrick,

com certeza o bloqueio dos Estados Unidos cria dificuldades para Cuba na área de informática e telecomunicações, mas o governo cubano poderia disponibilizar centros de acesso em escolas e pelos Comitês de Defesa da Revolução, as onipresentes associações de bairro na ilha.

A razão principal para a restrição à Internet é política, de dificultar o acesso à informação e a disseminação de opiniões contrárias ao regime.

O ponto do Generación Y é que talvez isso seja impossível nos dias atuais, pela própria pressão das novas tecnologias e pelas forças que ela dá aos dissidentes.

Abraços