quarta-feira, 26 de março de 2008

O Mundo pelos Olhos da Imprensa Internacional


Ao acompanhar blogs e fóruns de discussão sobre jornalismo, descobri links para pesquisas interessantes. Uma delas é The State of the News Media 2008, realizado pelo Project for Excelence in Journalism. O levantamento examina apenas a mídia dos Estados Unidos, mas chega a conclusões interessantes. No que toca aos temas de política externa:

Além do Iraque, na realidade, apenas dois países receberam cobertura expressiva em 2007, e ambos estão fortemente relacionados com a guerra: Irã e Paquistão. Se eliminarmos esses três, os eventos geopolíticos no resto do mundo somam menos de 6% das notícias estudadas, e isso inclui Afeganistão, Coréia, China, Rússia, Israel e todos os outros países combinados.

Segundo a pesquisa, 25% de todas as reportagens publicadas em 2007 trataram da guerra no Iraque e das eleições presidenciais de 2008, com surtos temporários envolvendo eventos chamativos, como chacinas em universidades. De acordo com o levantamento, questões com educação receberam menos de 1% da cobertura.

A pesquisa afirma que a Internet não democratizou o acesso a fontes de informação alternativas. Cerca de 29% das visitas à Web estão concentradas nos dez maiores sites de notícias (Yahoo News, MSNBC, CNN, Aol News, NY Times, Gannett, ABC News, Google News, USA Today e CBS News).

Embora blogs e sites de jornalismo cidadão tenham se multiplicado, aparecem como confiáveis e importantes para apenas 30% das pessoas entrevistadas, muito atrás dos sites de notícia (81%), TV (78%), rádio (73%), jornais (69%) e revistas (38%). A pesquisa critica os sites alternativos por não conseguirem inovar e no fundo restringirem a participação dos leitores aos comentários.

Visão bastante diferente de opiniões da moda, como as de Chris Anderson, que argumenta que na era da Internet o consumo cultural e intelectual se tornou muito mais fragmentado, e que os maiores lucros estariam em atender às demandas bem particulares e específicas. A pesquisa do Project for Excelence in Journalism parece reforçar a tendência contrária, de concentração extrema em um pequeno grupo de empresas de mídia e em temas abordados.

Outros dados que encontrei sobre imprensa internacional estão no site francês Observatoire des Medias, que elaborou mapas mostrando como é o mundo para diversos órgãos de mídia. Os países aparecem em maior ou menor tamanho de acordo com o número de referências na mídia, e as cores também sinalizam a freqüência.

O levantamento do Observatoire des Medias cobre mídia americana (New York Times, Slate), britânicos (Economist, Guardian) e francesa (L´Humanité, Rue 89), entre outros. Os mapas indicam concentração de notícias nos EUA, na Europa e no Oriente Médio, com alguns países se destacando regionalmente, tais como China e Índia na Ásia, México e Brasil na América Latina e África do Sul na África.



O mapa acima também é do Observatoire des Medias e mostra como a blogosfera retrata o mundo. É uma visão mais plural e diversificada do que a da grande mídia. Reparem, por exemplo, em como países latino-americanos como Argentina e Chile ganham destaque, em função de sua população mais instruída e com mais acesso à Internet. Observem que o mesmo ocorre com outros países em desenvolvimento, como Indonésia e Turquia, e na Europa Oriental.

De modo geral, as pesquisas que citei mostram que a imprensa internacional está fazendo um mau trabalho em informar os cidadãos de um planeta cada vez mais interdependente e conectado. Política e economia exigem mais informações e capacidade de compreender outras culturas e realidades, mas o jornalismo com muita freqüência reforça esteriótipos nacionais, religiosos e propaga visões estreitas das relações diplomáticas.

Como seria uma pesquisa semelhante a esses dois trabalhos abordando o tratamento que a imprensa brasileira dá aos temas internacionais?

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