segunda-feira, 23 de julho de 2007

Machado de Assis: um gênio brasileiro


Depois de duas semanas a viajar, é hora de atualizar o blog no que diz respeito à literatura e ao cinema. Comecemos pela excelente biografia “Machado de Assis: um gênio brasileiro”, escrita pelo jornalista Daniel Piza e publicada em edição de luxo pela Imprensa Oficial.

Machado era pobre, mulato escuro numa sociedade escravocrata, gago e epilético. Ainda assim, realizou a brilhante obra literária que o torna nosso melhor escritor, foi reconhecido em vida como parte da nata intelectual brasileira e ascendeu na carreira burocrática, tornando-se um alto funcionário público tanto no Império quanto na República. O que explica a superação de tantos obstáculos? Onde está a faísca do gênio?

Os episódios básicos da vida de Machado são bem conhecidos e a biografia recapitula todos eles de maneira competente: o início da vida profissional como aprendiz de tipógrafo, o gosto pela leitura, a cultura do autodidata e a facilidade com que se tornou querido de uma série de intelectuais que o apadrinharam ao longo de toda a carreira, facilitando sua escalada. Na esfera pessoal, seu longo e feliz casamento com Carolina, que ele tão bem retratou em Memorial de Aires.

A grande contribuição da biografia de Piza é nos mostrar Machado como homem de seu tempo, um jornalista observador e que tomou posição em todas as grandes controvérsias do Segundo Reinado. Como monarquista liberal, Machado foi favorável à abolição da escravidão e crítico das falsidades e corrupções que marcavam o sistema político da época. Eu desconhecia seu ardor patriótico durante a Guerra do Paraguai (que não me agradou, prefiro seu humanismo cético de fase posterior) e ignorava também a intensidade de sua admiração pelo imperador Pedro II. Piza ressalta a experiência de Machado como repórter e cronista, que rendeu textos antológicos como suas memórias sobre o Velho Senado Imperial.

Politicamente, Machado estava muito próximo do líder abolicionista Joaquim Nabuco, de quem também sou admirador. A amizade está relatada de maneira emocionante no diário de Nabuco e num volume de cartas entre os dois, ambos publicados recentemente. Não tantos os exemplos na história brasileira desse tipo de confiança e fraternidade entre um artista e um político. Ao menos não no alto nível alcançado pelos dois em termos de serviços prestados ao país.

O livro resenha de maneira sucinta os romances de Machado e seus contos principais, falando pouco do teatro e da poesia. Nenhuma das análises é muito aprofundada, nesse aspecto minha obra favorita continua a ser “Ao Vencedor as Batatas”, de Roberto Schwarz. Mas foi bem agradável passear de novo pelas criações de Machado, um dos meus escritores favoritos desde a adolescência. Faz muitos anos que não o leio e me faria bem visitar de novo o mestre.

Li Machado pela primeira vez aos 14 anos, o conto "Missa do Galo" e tomei gosto por ele um pouco mais tarde, quando chegou a vez de "Memórias Póstumas" e "Dom Casmurro". Talvez fosse cedo demais para um escritor tão sutil, e meus professores de literatura do ensino médio não ajudavam muito, preferindo ressaltar os aspectos do manual sobre características do romantismo x realismo. Aliás, predominava a interpretação de que Machado não tinha muito a nos dizer sobre a realidade brasileira da época, quando na verdade ele foi um de seus melhores analistas.

Que bom que a gente sobrevive à escola. Às vezes, aprender é esquecer o que nossos professores nos ensinaram.

10 comentários:

IgorTB disse...

Nesse aspecto foi um felizardo. Também conheci e me apaxionei por Machado nos tempos do segundo grau, mas o enfoque que tive na escolha foi além da contextualização do Realismo no Brasil, para discutir aspectos mais transcendentes: a descrença do olhar, o contexto social carioca, a mentalidade da época e sua retratação atemporal.

Não teríamos melhorado ao longo do tempo? Talvez não, nos grita na cara o jornal nosso de cada dia.

Machado de Assis é excepcional. O maior de todos os autores brasileiros, sem hesitação.

Abraço grande

ps: e aí, mestre, quando nos encontramos de novo em sala de aula?

Anônimo disse...

Eu adoro Machado de Assis. Taí uma literatura que começou pra mim como leitura de vestibular e virou uma paixão.

Já li muita coisa dele, mas tem um conto, "Pai contra mãe" (que o escritor Alex Castro diz ser uma das poucas obras canônicas da literatura brasileira a abordar diretamente a escravidão) que é o meu preferido; muito emocionante, muito humano.

Eu gosto do texto do Piza; não li o livro, mas fique atento, pois ele continha em sua primeira edição muitos erros factuais. O Piza é meio descuidado, foi ele o responsável pelo "Erramos" mais grotesco da história da Falha de S. Paulo, quando escreveu que, bem... Jesus Cristo tinha sido enforcado...

Dê uma googlada, tem uma discussão em algum lugar falando sobre os erros do livro. O Piza disse que iria consertá-los numa futura edição.

Maurício Santoro disse...

Caro Igor,

o link que coloquei no post é para uma entrevista com Daniel Piza na qual ele é perguntado sobre comparações entre o cenário atual e a época de Machado. O presente sai perdendo, claro, mas acho que isso se deve mais à excepcionalidade do período em que o mestre viveu.

Dou aula no Clio hoje e amanhã, mas para o curso regular. Começo com as TTAs em breve, talvez ainda esta semana. Aguardo só a resposta da secretaria.

Salve, Marcus.

O Alex tem razão, porque "Pai contra Mãe" é mesmo extraordinário, uma obra-prima. Embora Machado também tenha abordado o tema da escravidão em outras passagens memoráveis, como em Brás Cubas.

Abraços

Sergio Leo disse...

Também ouvi sobre os erros do livro, o que achei uma pena, porque considero o Piza um dos melhores colunistas hoje em dia. Um sucessor digno do Paulo Francis, daqueles com quem a gente discorda, mas é sempre um prazer ler, pela erudição, a independência nas idéias e o texto agradável _ ainda que essa erudição, ás vezes, tropece e enforque alguns Cristos...

Machado é o máximo. O Alienista é um monumento; A Igreja do Diabo, espetacular, Memórias Póstumas de Brás Cubas fundamental...

Maurício Santoro disse...

Salve, Sergio.

Os únicos erros que pesquei no livro foram pequenos problemas de digitação, como 1976 em vez de 1876, coisas assim. Pode ser que existam outros, mas me empolguei tanto com a narrativa que nem percebi.

No meu livro não há indicação de qual é a edição, consta somente o ano de publicação como sendo 2005.

Abraços

Sergio Leo disse...

Que bom, deve ter corrigido. Antes havia problemas como atribuir ao governo Floriano fatos da época do Imperio, ou coisa parecida. Não me parecia coisa que comprometesse as teses centrais do trabalho, mas o Piza tem tantos inimigos quanto amigos, e, nesse meio em que a gente vive, a inveja vive de pedras na mão...

Anônimo disse...

Eu qria saber qual foi a imrpotância de Machado de Assis no Realismo/Naturalismo.
Preciso para um trabalho de Literatura.

Tim Marvim disse...

LIVRO MEMORIAL DO BRUXO

Se você gosta de Machado de Assis, conheça o livro MEMORIAL DO BRUXO, uma excelente biografia do “bruxo do Cosme Velho”, contendo inúmeras informações, anedotas e curiosidades a respeito da vida e obra do escritor. Basta clicar no link abaixo:

http://clubedeautores.com.br/book/4900--MEMORIAL__DO__BRUXO

ou visite o blog:

http://machadodeassis-memorialdobruxo.blogspot.com


(Se esta informação o ofende de alguma forma, por favor, apague-a sem dó nem piedade)

Tim Marvim disse...

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(Se esta informação o ofende de alguma forma, por favor, apague-a sem dó nem piedade)

ADEMAR AMANCIO disse...

Na minha época meus professores nem sabiam quem foi Machado de Assis,e continuam não sabendo é claro.